quarta-feira, 15 de outubro de 2025

É vergonha ser peão?

Quando chegamos a uma certa idade é comum ouvirmos a pergunta: "Você trabalha de quê?" Isso quando não nos perguntam se também estamos fazendo uma faculdade. Aliás, muitos ainda acreditam que ter uma faculdade é equivalente a ter um bom emprego. Dizem que o valor de uma pessoa não está no que ela tem e sim no que ela é. É verdade, é bonito afirmar isso. Mas na prática não é bem assim...

Quem nunca foi surpreendido num almoço/reunião de família com essas inconvenientes perguntas? Isto é, é como se a partir do momento em que você completa 18 anos você fosse obrigado a ter um emprego bom ou no mínimo estar estudando para conseguir um. Desconsiderando todo o cenário econômico caótico do nosso Brasil, a geração inflacionária em que vivemos, o pouco valor dos estudos no disputado mercado de trabalho atual, nossos ancestrais estufam o peito pra falar das suas proezas na juventude. Como se as conquistas deles tivessem que ser também as nossas, mesmo que eles sejam de outra época e por tanto, de outros cenários (obviamente mais favoráveis).

Sei que nada vem de graça. Mesmo os herdeiros precisam de disciplina para administrar bem suas finanças e não levarem todo o patrimônio da família a bancarrota. Óbvio. Mas acreditar que os estudos farão milagres num país onde engenheiro é motorista de Uber por não encontrar vagas na sua área de formação, é no mínimo risível. (Nada contra os motoristas de Uber que são muito gentis e conseguem uma boa grana até...).

Ainda que confessar-se desempregado soe sempre pior e mais ultrajante, contar qual é o emprego simples em que está trabalhando também pode chocar. Aí é que vem o clichê: "Você é tão novo, deveria estudar mais... aproveite agora enquanto está jovem." Ora, vocês vão pagar meus estudos? Ou pelo menos pagar as minhas contas pra que eu possa estudar tranquilamente enquanto não me formo?

Antigamente, as famílias olhavam muito a profissão do pretendente das filhas. Todos queriam ver suas moças bem casadas, com um homem que lhes desse segurança. A segurança que o dinheiro pode dar. Médico, advogado, militar, político, ou simplesmente filho de alguém de posses...

Hoje em dia esses preconceitos não mudaram. Só ficaram mais implícitos. Toda vez que alguém olha com espanto quando dizemos que somos faxineiros, repositores, serventes de obras, gari, jardineiro, ou o que seja, é como se o nosso trabalho não fosse digno. Mas quem define o que é digno ou não?

Todo trabalho que dá dinheiro honesto é digno. Se não fosse pela faxineira, o gerente não teria sua sala limpa. E nem sempre é o mérito que faz com que alguém seja gerente e não faxineiro...

O importante é ter dinheiro para pagar as contas, sem roubar ou pedir emprestado. Não dever nada a ninguém e dormir em paz após um dia laboral cansativo. Quem têm oportunidade de estudos, deve aproveitar. Quem não têm, pode correr atrás, mas com a preocupação de tirar o sustento do dia a dia ao mesmo tempo (algo que um "filhinho de papai" não terá, podendo focar só nos estudos). O importante é botar o pão na mesa, e todo trabalho (por mais simplório que seja) que nos ajuda a conseguir isso deve ser valorizado e respeitado. Todo trabalho é digno.

No xadrez, o peão é a peça mais fraca do jogo e a primeira a ser capturada. Na linguagem coloquial, é todo aquele que "não têm profissão", faz o que acha, se vira como pode pra sobreviver e geralmente não possui muitos estudos. Tais pessoas sofrem um preconceito velado por isso. Ninguém fala, mas todos sabem.

Diplomas são bons mas não fazem milagres. E ter um salário alto não adianta nada se não souber administrá-lo. Há pessoas que ganham muito e gastam mais ainda, ficando no vermelho...O que adianta?

Não é vergonha ser um "peão". O importante é ter o seu dinheiro/salário honesto e viver em paz, cuidando da sua vida e deixando que os outros cuidem da nossa.

Um comentário:

  1. Não tá fácil pra ninguém, o trem da vida segue e leva alguns, enquanto outros precisam correr atrás! A vida é assim, e justiça e desigualdade sempre foram a meta do mundo : Enquanto uns querem a justiça, outros enriquecem com a pobreza dos menos favorecidos! Parabéns pelo artigo, abraço!

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