sábado, 10 de outubro de 2020

Cronos

Não podemos voltar ao passado, nem prever o futuro. O único tempo que temos é o que chamamos presente. O passado é visto como uma página virada, uma experiência vivida e superada. O futuro é algo distante, nele projetamos nossos desejos e esperamos ver nossos sonhos realizados.

Se não estamos satisfeitos com o presente, apostamos nossas fichas no futuro ou desejamos voltar ao passado, retornar ao período em que éramos felizes. Tentamos escapar do nosso estado atual, seja buscando consolo num tempo que ainda não chegou ou nos refugiando nas agradáveis recordações de um tempo passado.

O tempo sempre será nosso maior adversário, nossa maior preocupação. "Não tenho tempo a perder", "Isso é perda de tempo", "Tempo é dinheiro". Queremos aproveitá-lo da melhor forma possível, e nos desesperamos quando vemos que ele segue sua marcha velozmente, altivo e soberano, sem se importar com nossas queixas, carências, anseios, inquietações!

Quando conquistamos aquilo que sonhamos sem demora e sem maiores dificuldades, o tempo corre a nosso favor. Porém, quando não obtemos o que desejamos dentro do prazo estimado, o tempo corre contra nós. Sua velocidade torna-se assustadora. Cada segundo, minuto, hora, dia, semana, mês, ano perdido é como se fosse um tempo desperdiçado, jogado fora, que não volta. Nos aflige vê-lo passar sem termos feito, conseguido, obtido aquilo que almejamos. E, obviamente, não podemos pará-lo até conseguirmos o que queremos. Temos que ir contra ele, como um herói que têm poucos segundos para desarmar uma bomba e evitar uma grande explosão.

Devemos seguir o curso do tempo, como uma folha que se deixa levar pelas águas de um rio. A folha não sabe para onde será levada, mas vai. Não sabe que obstáculo terá pelo caminho, se um toco ou uma pedra poderão detê-la, mas avança. O mesmo acontece conosco: não sabemos o que virá pela frente, mas seguimos, nos deixamos levar.

Temos a sensação do quanto percorremos ao olharmos para trás, e do quanto ainda falta percorrer quando olhamos para frente. Somos um ponto negro em meio a um imenso quadro branco. Um lapso de consciência, sensações, emoções que toma forma repentinamente, saindo por um instante do buraco negro, do vazio, do nada no qual estivemos por toda a eternidade e para o qual voltaremos em breve.

Somos um milagre, uma estrela que brilha iluminando a escuridão da noite, até apagar-se e voltar a se perder nela.