quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Esquizofrenia


Esquizofrenia é um muro fechado que aprisiona uma só vítima, presa na "loucura" vive um mundo de torturas, sem sequer direito a liberdade 
ou mesmo visita íntima. 

É uma grade protetora
de um campo de concentração onde só estão, soldado armado e a pobre alma infratora. 
Uma espera horrível de uma execução que nunca vem, de uma presa que para estar assim, nenhum pecado têm. 

Uma cerca elétrica sempre ligada na maior voltagem possível. 
Cerca essa que protege a mansão de assassinos, 
traficantes barra pesada, 
como se já não bastasse, guardada em sua entrada por um pitbull terrível.

Sensibilidade a flor da pele, a flor da pele à dura realidade. 
Um claustro pessoal triste e viciante, de quem sair não pode um só instante. 

Peso de quem um mundo não mais consegue suportar, e a si próprio algema para que ninguém mais o possa algemar. 
Uma prisão mística, irreal, paradisíaca, na verdade arquitetada minuciosamente por uma mente que livre quer ser dessa cela chamada realidade. 

A fuga que se faz todo dia do mundo, cruel e profundo, de dores, agonias, de tudo e de todos, essa é a esquizofrenia!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A ave

Cada minuto que passa 
é um instante que se perde na eternidade. 
É uma ave que voa ligeira 
para um lugar distante 
e mais bonito, fundindo-se no infinito e nos deixando saudade. 

O que agora é, um dia se irá, o que foi já não volta, e não sabemos o que em seguida virá. 
Não podemos
parar a roda, deixemos girar! 
O rio segue seu curso
e desagua no mar. 

Tudo passa, se dissolve, se desfaz! 
Nada é certo, senão o fato de que tudo é incerto, 
e o que hoje é, 
amanhã não será mais. 
Tudo que vem volta, com a mesma rapidez que o vemos chegar. 

Por isso, sorri e abraça aquilo que amas, aproveita, faze-o enquanto podes, para que não te arrependas 
quando vires a ave bater asas de volta à seu lar!

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Minha vila em ruínas

Ando pelas ruas e becos 
lembrando-me do que vivi. Cada viela conta uma história do lugar onde cresci. 

Não me acostumei a ver-te deserta, sem casas, 
sem moradores...
Estranhei o mato seco que cresceu onde era minha casa, que pela relva está coberta, assim como o campo onde jogava bola, eu era o goleiro e os outros na linha jogadores. 

É tão estranho caminhar por aqui e não ouvir o barulho de antes! 
Todos foram embora e não vão voltar; o que era casa agora é entulho, a prefeitura quase tudo logrou demolir, tirou de seus lares a gente que neles vivia, o povo pelo mundo se espalhou, com a indenização nenhuma alma ficou. 

Ah, que pena que tenha que ser assim! 
Não vejo ninguém a brincar, passear ou cantar 
nas ruas e becos onde cresci e dias felizes vivi. 
Não há mais bairro, tudo teve fim. Agora o que tem é mato, pedaços, sumiram as ruas, becos e esquinas, 
ah, que triste é ver minha vila em ruínas!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Gárgulas

Pedras, obeliscos e colunas ancestrais 
que de pé estais, 
ao calor e a chuva resistis, 
minha aflição assistis, 
há séculos a dor de muitos testemunhais. 

Anjos, demônios,
vejo-vos a olhar-me firme nas fachadas ou nas laterais. 
Sois a riqueza, a glória, a beleza desses museus, dessas antigas catedrais. 

Resplandeceis sob a luz da lua, quando o céu negro a tudo cobre. 
Vossas linhas colossais brilham na madrugada, fazeis dela uma nobre aliada. 
A noite melhor se vêem o sino, o relógio e a escada. 

Com vossas formas monumentais, a cidade enfeitais, elegância à urbana paisagem dais. 
Admiro-vos belas construções, sobreviveis ao tempo, passam-se gerações e permaneceis, vós gárgulas que tanto me encantais!

domingo, 27 de dezembro de 2020

À contemplação de um crânio

Contemplo-te ó carcaça desgastada de meu frágil ser. És o que realmente sou, mas enquanto eu for, ninguém te poderá ver. 

Olho-te atentamente, tens um ar medonho!
Vejo três grandes buracos onde eram o nariz e os olhos, preservam-se os dentes, pareces risonho. 

Guardavas a massa cinzenta da matéria pensante que abrigavas, uma mente ofegante que mil sonhos sonhava. 

És o maior deboche dessa vã realidade, tu mostras o que há de vir. Oh, que maldade, de minha sorte estás a rir!