quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Uma alma

Ele chorou, ninguém viu.
Estava aflito, ninguém acudiu.
Pedia ajuda, não atendiam,
achavam que era tudo bobeira,
iria ficar melhor um dia.

Ele estava triste, não notavam,
queria alguém para conversar,
mas com ele não falavam.
Só precisava desabafar,
mas não tinham paciência,
nunca o escutavam.

Ele se queixava, achavam-no chato!
Diziam que era falta de fé,
mas não viam seu problema, ninguém sofre porquê quer,
estavam indiferentes,
para notar a dor alheia,
faltava-lhes tato.

Ele sofria, ninguém via.
Amava, mas quem correspondia?
Nada pra ele foi fácil,
por isso carregava uma dor sem igual,
a de lutar contra si mesmo,
de sobreviver à sua própria anarquia, seu próprio caos!

Hoje ele expirou,
e todo mundo com isso se escandalizou.
Mas ele esteve andando por aí,
e ninguém sequer sua presença notou!
Ele não está mais aqui,
na verdade há muito já não estava,
mas só hoje sua falta se faz sentir,
porquê ele nunca mais há de vir,
ele não só morreu,
ele se matou!

Um vulto

A cada dia que passa,
pior eu me sinto,
tudo isso vai encaminhando à um grande mal
sem precedente tal, eu pressinto,
tamanha a dor que sinto,
eu garanto, tristemente eu não minto!

Os dias se vão secando meu ser,
rápidos, à galope, levando-me,
sinto então como se estivesse a morrer!
Não como homem, não como gente,
mas tal como planta, secando, secando, em todas as partes,
até desfolhar, até derreter!

Tamanho sofrer não merece ninguém ter,
oh que desventura, que miserê!
Concluo comigo
em meus muitos pensares absorto,
que há algo bom e outro sem alívio,
bom é sentir-se vivo estando morto,
terrível ser um morto estando vivo!

Nessa agonia estou eu a desaparecer!
Perdão ao divino peço,
minhas palavras com esmero meço, mas não quero mais ser um vulto, viver em luto,
oh que vontade de morrer!

Meu mal é ser poeta

Meu mal é ser poeta,
achar que versos são mais que um simples rabisco à toa.
Pensar que o mundo, com seus males diversos,
pode melhorar com letras magistrais - Essa é boa!

Meu mal é ser poeta,
não ter o amor da mulher que quero, apenas contemplá-lo.
Que triste situação, como um artesão,
que após esculpida imagem, guardadas pá e colher,
se satisfaz com seu trabalho em olhá-lo!
Mas eu não esculpo nem pinto,
minha arte é ainda mais sonhadora,
somente com palavras, poder descrever e sonhar com a mulher, a mulher encantadora!

Meu mal é ser poeta,
fechar-se em mim tal qual borboleta no casulo.
Bem sei que nem todos assim são,
mas eu me protejo e resguardo,
me escondendo assim
de meus medos, receios,
oh! triste clausura!

Meu mal é ser poeta e não sábio.
Se sábio eu fosse,
poemas não escreveria,
pois saberia que isso
à lugar algum me levaria.
Se fosse sábio não haveria pra mim tantos problemas.
E feliz, oh, feliz eu viveria!

Meu mal é ser poeta,
nem pouco nem mais.
É uma loucura sem fundo,
que nunca se satisfaz!
É viver entre paixões, quimeras, ilusões,
em um mundo mau com dramas
nem um pouco amenos.
É idealizar, românticamente sonhar,
e viver, viver de menos!

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Breves instantes de misantropia

Já descobri que neste mundo,
muito sofre quem não merece sofrer, e que bem sempre morre, quem mais merece viver.

Muito ódio e pouco amor,
é o homem com o seu redor.
Com isso nem tenho mais o que dizer
daqueles que fazem da dor do outro
seu intenso prazer!

Inveja, ganância, cobiça.
Luxúria, gula, avareza e preguiça.
Depravação, perversão, zoofilia.
Charlatanismo, paganismo, pedofilia.
Vandalismo, homicídio, anarquia.
Adultério, ladroíce, pederastia.
Chacina, mentira, furto, sodomia.

Ah, quisera eu listar
em meus tediosos momentos 
todos estes adjetivos do homem!
Mas pobre de mim
que uma caneta inteira pra isso gastaria,
e você leitor, para lê-los, um dia inteiro levaria!

Sensações suicidas

Meu corpo exala o último suspiro,
a dor está cessando,
a morte vem vindo.
Já não mais me contorço ou viro,
tudo está girando, e eu estou indo.

Meu espírito flutua,
e perplexo olha pro já desgastado corpo.
Ele não entende para onde vai,
mas mesmo assim, de mim ele sai,
vê todos do alto, como de um topo.

Pessoas se juntam ao redor da carne sem vida,
olham desoladas, me criticam,
compreendo, estão magoadas e feridas.
Eu sigo meu rumo,
livre deste mundo, meu destino assumo.

O que fiz não é digno de glória,
mas com isto entrei pra história.
O que será agora de mim?
Se já morri, mas estou consciente,
qual será de fato meu fim?
Será que não fiz o serviço direito?
O tiro tinha que ser na cabeça
e não no peito?

Eis que assim vou,
tudo está desfeito,
termino o que nem deveria ter começado;
O que não podia, ei-lo aqui,
senhoras e senhores, acabado!

Para onde vou, talvez não haja dor,
talvez sim.
O meu sangue denuncia a falta de amor,
a ganância sobre a esperança!
Eis que assim me atiro pro meu próprio fim,
me mato, não tenho dó de mim!
Vejam por vocês se mais gente não está fazendo isso,
este foi meu fim,
pra muitos é apenas o início...