segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Rato

Miserável ser, que nos buracos se esconde,
às vezes se deixa ver, 
e pelo nome dos ladrões responde. 

Sai para comer, e nem sempre consegue. 
Rói tudo que pode, 
inclusive a isca que o persegue. 

Grande cauda, charmoso bigode. 
É por decreto um marginal, que luta para sobreviver, 
pobre animal, 
subterrâneo ser!

Fonte de males, é sempre caçado. 
Não pode viver, 
de todos é odiado.

Nasce para ingerir veneno ou ser sobremesa do faminto gato, que triste é a vida do rato!

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

O canto do cisne

Diz a lenda que quando o cisne está pra morrer, ele canta. 
Aquele que em toda sua vida fora mudo, se põe a gemer, diante da morte que se levanta.

Seu canto é misterioso,
seria um lamento,
ou quem sabe talvez , 
neste momento o triunfo de quem ante o inimigo sai vitorioso?

Frente ao desconhecido, de nada vale tremer.
É nobre de peito erguido tombar, e entoando sons perecer!

Formosa ave, morre com o encanto que vive. 
Não sabendo o que lhe espera, canta, riso ou pranto, a vida que em seu canto revive!

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Metamorfose negra da alma

Floresce como uma flor,
sutil e secretamente.
Crescendo aos poucos o horror
nos mais profundos 
recônditos da mente.

Sentimentos, planos, sonhos
daí são oriundos.
Até mesmo os mais tortos 
navegam por esses portos e como são fecundos! 

Para que saiam da teoria 
e se tornem realidade
há todo um processo,
uma agonia, 
que não sei se é avanço
ou regresso.

A essência do bem e do mal habita em nós. 
Pode o mais belo cristal cortar, e a vítima tornar-se algoz.

Quantos desejos de vingança já não sentiu
quem injustiçado se viu,
inclusive a pura criança?

Quem nunca desejou 
e para ninguém contou,
que algo ocorresse 
à quem lhe provocou,
que o infrator morresse,
e a fortuna vingasse o ofendido,
levando quem o insultou?

É nesse vale escondido 
que reside todo o complexo, o ódio,
o desejo reprimido,
reflexo do que é
e ainda não se tornou. 

Tirai pois o véu 
e vede o que debaixo se esconde! 
Como é escuro, amargo mel,
livrai-vos das amarras e vede como o instinto responde!

Perdem-se os jovens em orgias, 
devoram-se vorazmente
ao som de estranhas melodias,
entregam-se ao deleite
e deleitam-se somente.

Aquela moça pura
já não têm ternura,
é agora uma senhora 
que só quer revanche, 
sem demora, só espera 
por uma chance. 

Num solitário abismo 
debate-se o seminarista 
contra nocivos pensamentos,
cruéis tormentos,
brotam-lhe raízes de um sólido ateísmo. 

Aquele que um dia orava a Deus, dirige-se a Satã.
Quem de noite lutava pelo bem dos seus,
agora os descarta e vende pela manhã!

O menino que não fazia mal à uma mosca,
hoje esconde os cadáveres que produziu,
admirando-os sob uma luz fosca. 

Que foi feito daquela que tanto sorria,
e há muito pela última vez sorriu? 
Onde está o brilho no olhar que iluminava a quem via,
e ninguém mais viu?

É tudo isso o mais sombrio processo de involução. 
Quando não bate mais,
dão ao morto uma pedra e lhe roubam o coração! 

Vede amigos, quão tênue é a linha que separa o bom do mau, como cresce a erva daninha,
e que pequena é a palma 
que leva à metamorfose negra da alma! 

domingo, 1 de outubro de 2023

Vilarejo fantasma

O vento que assopra nestas pradarias
trazem choros, 
vozes de outra vida
clamando em coro,
sussurrando lentas agonias.

É tão doce a calmaria
que se sente nesta mata, 
ver o fim do dia,
quando uma imensa saudade
nos corrói e arrebata. 

Lá no fundo há uma cidade 
escondida entre as montanhas. 
Congelada no tempo,
habitada por ninguém 
e cheia de ruas estranhas.

Outrora haviam casas,
casebres e casarões...
Escravos pisavam em brasas,
muitos gritos se ouviam ao capricho das sinhás 
e ao mando dos barões. 

Andar por essas vilas 
é sonhar o que alguém sonhou...
Ouro e riquezas 
misturados à dor e tristeza,
banhado no sangue 
que algum negro ou índio lavou...

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Pesadelos reais

Ela descobriu o segredo, 
atravessou o portal,
agora está só 
com o seu medo,
lutando uma luta abismal. 

Há tempos teve uma visão e não quis acreditar, 
mas grande era a sua paixão pelo saber e aqui ela veio parar.

Atravessou o espelho
e pelas sombras se deixou levar.
Viu um olho vermelho
num jogo de luzes, silhuetas a dançar. 

Tudo era estranho ali,
a árvore gigante,
um diamante enorme,
seres de 
tamanho disforme, 
uma nuvem a lhe sorrir.

Ela queria saber onde estava,
constantemente se beliscava.

Ela ainda não descobriu,
isso foi tudo o que ouviu:
"Menina, você não está no mundo dos sonhos,
de arco-íris, duendes e castelos,
aqui há monstros medonhos, 
e príncipes nada belos,
não perca sua luz, 
não renuncie seus ideais,
mas saiba, seus pesadelos são reais!"

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Vertigem

Palidez. Repentino calor.
Por sua vez, percorre-me 
o corpo não sei que sensação, enfraqueço,
mas não sinto dor. 

Tomba aos poucos minha mão.
Como quem desaba de um topo,
sinto-me arrastado ao chão...

Escurece-me a vista,
já tenho uma pista do que pode ocorrer...

Em vão tento gritar,
perco a voz, 
já nada ouço,
sinto que vou desmaiar!

domingo, 3 de setembro de 2023

Gótico

Negras cores,
pálido rosto.
Como que expondo crenças interiores,
ou afirmando 
um íntimo desgosto. 

Talvez somente 
o desejo de ser diferente. 
Cruzes, caveiras, 
anéis, cordões, 
adornam peças inteiras
que elegantes ostentam pelos salões. 

Amigos da tristeza, 
filhos da melancolia,
até delas extraem beleza.
Amantes da noite,
do rock, das artes, da poesia. 

Misteriosos e cultos,
andam sós no meio de nós, mas se reúnem todos, poderosos em seus redutos.

Celebrar a morte 
é afirmar a vida.
Nada melhor do que a própria dor 
para curar uma ferida!
Abraçar a solidão, 
escarnecer de seus medos,
retratar a escuridão,
confessar seus segredos,
diante de monstros reais e medonhos, 
refugiar-se na imaginação, 
nutrir-se de sonhos.

Como é bela e exótica 
a fascinante cultura gótica!