Floresce como uma flor,
sutil e secretamente.
Crescendo aos poucos o horror
nos mais profundos
recônditos da mente.
Sentimentos, planos, sonhos
daí são oriundos.
Até mesmo os mais tortos
navegam por esses portos e como são fecundos!
Para que saiam da teoria
e se tornem realidade
há todo um processo,
uma agonia,
que não sei se é avanço
ou regresso.
A essência do bem e do mal habita em nós.
Pode o mais belo cristal cortar, e a vítima tornar-se algoz.
Quantos desejos de vingança já não sentiu
quem injustiçado se viu,
inclusive a pura criança?
Quem nunca desejou
e para ninguém contou,
que algo ocorresse
à quem lhe provocou,
que o infrator morresse,
e a fortuna vingasse o ofendido,
levando quem o insultou?
É nesse vale escondido
que reside todo o complexo, o ódio,
o desejo reprimido,
reflexo do que é
e ainda não se tornou.
Tirai pois o véu
e vede o que debaixo se esconde!
Como é escuro, amargo mel,
livrai-vos das amarras e vede como o instinto responde!
Perdem-se os jovens em orgias,
devoram-se vorazmente
ao som de estranhas melodias,
entregam-se ao deleite
e deleitam-se somente.
Aquela moça pura
já não têm ternura,
é agora uma senhora
que só quer revanche,
sem demora, só espera
por uma chance.
Num solitário abismo
debate-se o seminarista
contra nocivos pensamentos,
cruéis tormentos,
brotam-lhe raízes de um sólido ateísmo.
Aquele que um dia orava a Deus, dirige-se a Satã.
Quem de noite lutava pelo bem dos seus,
agora os descarta e vende pela manhã!
O menino que não fazia mal à uma mosca,
hoje esconde os cadáveres que produziu,
admirando-os sob uma luz fosca.
Que foi feito daquela que tanto sorria,
e há muito pela última vez sorriu?
Onde está o brilho no olhar que iluminava a quem via,
e ninguém mais viu?
É tudo isso o mais sombrio processo de involução.
Quando não bate mais,
dão ao morto uma pedra e lhe roubam o coração!
Vede amigos, quão tênue é a linha que separa o bom do mau, como cresce a erva daninha,
e que pequena é a palma
que leva à metamorfose negra da alma!