segunda-feira, 25 de abril de 2022

Querer


A alegria dos loucos
que ninguém as tire. 
Ser feliz com bem pouco, 
que eu aprenda, oh, minha alma mire! 

Queria poder sorrir de verdade mas não consigo! 
Queria enxergar a paz 
atrás de todo esse caos, 
essa podridão e sangue, 
mas os homens maus 
não deixam, afundam-se os sonhos como naufragam-se naus. 

Devia ver amor no meu vizinho, por trás da sua gentileza aceitar carinho. 
Mas não tem como, 
há sempre o medo e a desconfiança, cedo ou tarde, o jovem bondoso 
possível pedófilo é para a criança. 

Devia acreditar em todo candidato, dar-lhe meu voto de confiança. 
Queria esperar deles apenas um bom mandato, 
quatro bons anos, mas como, se só vejo neles ganância? 

Queria justiça de verdade, para todos, liberdade, igualdade, fraternidade, 
um pasto gordo pastando todos, uma grama verde numa bela cidade. 

Queria andar tranquilo à noite sem medo de assalto, mas tal como o escravo teme o açoite, assim nesses horários corremos, ligeiro e com salto. 

Eu queria, como eu queria, tudo isso e muito mais, 
coisas que não posso ter!
Se é assim, pobre de mim, 
tal desejo não tem fim, jamais, 
eu só queria então não mais querer!

Sacerdotes de Satã


Sacerdotes de Satã, 
todos eles são. 
Servem dia e noite o diabo,
a carne de suas vítimas dão à ele de manhã. 

Vendem caro (ou barato) 
muitas almas, 
entregam vidas à ele, 
não se importam 
se desesperadas ou calmas, são sempre almas, e porque não as trancar na prisão? 

Atacam com várias armas, usam algemas, corrente, mordaça fatal. 
Tudo isso distrai essas mentes primatas, cumprem seus "karmas", alcançam nirvanas, sua dor não é real. 

Tem muitos ouvidos, 
mil bocas. 
Tudo sabem, são sempre os escolhidos,
os certos e precisos, 
suas palavras nunca são loucas. 

Donos da razão, 
seus caminhos são os corretos. 
Mas não vá, 
escute o que digo então. 

De roupa alva 
e alma negra, 
seu íntimo eles lavam, 
dão a você o pão. 
Por trás de si, cordas lhe amarram, flechas cravam, 
derretem seu coração. 

Com eles você jamais verá o céu, morrerá com eles, 
sua mulher chorará em seu enterro com véu. 
Você não terá outra sorte, 
senão a dor e a morte, 
mais forte do que no inverno o frio, se aquecerá debaixo da terra, 
no fogo do inferno. 

Quisera eu queimar tal chama que em mim arde! 
São filhos do demo, 
carrascos do show de horrores, 
seja ontem, hoje, amanhã, sempre, 
todos esses falsos rabinos, padres, pastores, 
"escolhidos, ungidos, doutores"
são e serão filhos do diabo, sacerdotes de Satã!

sábado, 23 de abril de 2022

Ideação s...


Parece que parte de mim se foi, 
eu não sei onde perdi. 
Ando por aí, assim, 
sonhando com o meu fim. 

Só dormindo tenho tido paz. 
Estou insatisfeito, 
queria um mundo sem defeito, porém isso é utopia, 
sonho de um nunca mais. 

Vejo as pessoas, 
se são más ou boas, 
não saberei. 
Elas não falam comigo, 
não oferecem abrigo,
na grande cidade esta é a lei. 

Num dia qualquer isso talvez acaba, 
a chama de fogo de vez se apaga, e tudo termina! 
Sem vez para porquês, 
meu descanso vem
e feliz cumpro minha sina!

domingo, 17 de abril de 2022

Histeria


Não consigo me acalmar, 
tento, mas não têm como, 
preciso desabafar, 
as mãos inquietas tomo!

Preciso fazer algo
senão vou pirar!
Estou aflito, oh alguém,
rei, sacerdote ou mago
pode me ajudar?

O tempo passa tão devagar pra mim, oh me diga,
é só comigo ou com todos é assim?

Estou a ponto de explodir mais uma vez,
não me perguntem os porquês, 
pobre de mim, vou estourar de novo!
Já não quero mais isso,
alguém por favor me acuda,
meu cérebro está pegando fogo!

sábado, 16 de abril de 2022

Queixumes


Desconheço pior condição para se existir do que a humana. Como as pessoas conseguem gostar de viver? Ou, como são capazes de suportar a vida tão fácilmente? Realmente, me impressiono com isso. O mundo é louco, as pessoas são loucas, a humanidade é louca! 

As condições da vida são ruins e não podemos mudá-las. Aceitá-las e adequar-se à elas é a única coisa que nos cabe fazer. Resignação, conformismo! Não há outra opção. O despropósito rege tudo o que se faz. O reino da falta de sentido, do imprevisto, da dor, do sofrimento e do caos! 

O tempo que sempre passa e nos escapa. O presente que se torna passado, os acontecimentos, lembranças. As dores que nos perturbam, os problemas que nos assolam, as preocupações que nos angustiam, a morte a nos espreitar. O corpo sofrendo com a ação do tempo, o desgaste natural do envelhecimento. Um sem fim de desejos irrealizados, de sonhos frustrados, metas canceladas, coisas que ficaram pelo caminho. E assim vamos, varrendo a sujeira pra debaixo do tapete, esperando dias melhores que nunca vem, renovando a esperança contra todas as evidências possíveis, negando o óbvio. A vida não é possível sem uma grande dose de ilusão!

O costume é o que nos impede de enlouquecer: escravos da rotina, servos fiéis dela, nos protegemos nela. Nos sentimos livres e não percebemos nossas correntes. Todo homem que nasce recebe um nome, um corpo e uma lista de tarefas para cumprir. Vive como pode, não como quer. Faz malabarismos com os recursos que possui, luta para sobreviver, está em uma guerra perdida contra o tempo, a velhice e a morte. É frágil e limitado, por mais que se sinta um deus. 

A vida é uma maldição, uma irracionalidade, uma brincadeira nada divertida. É incrível como quase ninguém perceba isso. Só quem vê a vida de cabeça pra baixo, a vê como ela realmente é.

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Dúvida

És minha cruel certeza, 
nunca me abandonas, 
não há em ti beleza, 
minhas crenças, impiedosamente, tu profanas.

Tudo o que creio, duvidas.
Tudo o que penso, ris.
Destrois o que há de mais sagrado em nossas vidas, não tens escrúpulos, nossas verdades, reputas como vis.

De onde vim, 
quem eu sou, 
para onde vou, 
porquê aqui estou? 

Ai, tem dó de mim! 
Deixa-me em paz, 
por favor, ó tirana e estúpida, 
vil e profana, 
inconveniente dúvida!

domingo, 10 de abril de 2022

Impulsos suicidas


Quando vejo uma faca, 
imagino-na cravada em meu coração. 
Sonho acordado comigo mesmo enforcado pendurado em uma árvore,
ou quem sabe afogado num ribeirão! 

Queria uma arma pra estourar meus miolos,
arregalando os olhos, 
morrer com um tiro então. 
Esguichar sangue no chão 
e a liberdade abraçar, 
depois da dor e o horror, 
a paz sobre mim reinar, quando a morte alcançar.

Não vejo mais sentido na vida, é tudo sem graça pra mim! 
Mas há um inferno, 
um fogo eterno que me prende à esse mundo, pra isso não compensa morrer assim. 
Afinal, que graça tem, 
que sorte haveria, se vindo a morte, uma pior sorte, maior mal me apegaria? 

Salva-nos então Senhor, tem piedade, 
dá-nos do teu amor, ajuda essas muitas vítimas de si, de impulsos suicidas!

sábado, 9 de abril de 2022

Reação


Isso não pode continuar assim, 
preciso fazer algo, ainda que eu não saiba o quê, 
pelo bem de todos, por mim!
Vou me levantar, lutar e vencer, 
minha saga não teve fim!

A mente pisa em solos arenosos, o pensamento 
passeia por lugares tenebrosos, 
se perde em sonhos temerosos,
vagueia em vales assombrosos. 

Quanto tempo eu perdi 
sonhando com o que não tive,
lamentando o que não vivi?
Na angústia se consomem 
os meus dias, mas já basta de prantos, chega de agonias,
eu ainda não morri!

Depois de tantos golpes 
é mais do que a hora de reagir.
Vou me erguer, lutar e vencer,
tudo dará certo, eu vou conseguir!

Guerreiros caem mas não ficam prostrados, só os que se esforçam vêem os resultados. 
O que eu pretendo obter
ficando parado? 
Vou me levantar, lutar e vencer, 
sou um vitorioso e não derrotado!


Anseio

Queria andar por aí 
e encontrar uma flor. 
Admirá-la, 
e contemplando-a aliviar minha dor.

Não quero continuar aqui, 
vivendo nesse mundo sem amor!
Alcançar a paz, o alívio sincero, profundo 
seja onde for!

Queria andar pelas ruas
e ver todos sorrindo.
Sem mais miséria, nem medo de perderem as coisas suas, 
todos se abraçando,
à um estranho desejando que seja bem-vindo.

Quero todos unidos
servindo a Deus! 
Não mais guerreando, 
somente louvando o criador, 
que cuidaria dos sonhos seus.

Quero ter esperança, 
voltar a ser feliz como criança, 
pintar o mundo de azul! 
Ah, como eu quero 
a felicidade, a alegria
de leste a oeste,
de norte a sul!

sexta-feira, 8 de abril de 2022

Gente


Tem gente em todos os lugares, onde quer que eu vá. 
Não adianta olhar pros lados, alguma pessoa, em qualquer canto, sempre há de estar. 

Não se pode andar nu, 
pois alguém há de flagrar. 
Não há como, sem ser visto, cheirar o sovaco, 
ou mesmo coçar o c*, 
haverá um olho ou câmera a te filmar. 

Olhos sempre olhando, ouvidos sempre ouvindo, 
maconheiros fumando, policiais para prender bandido partindo. 

Camelôs nas calçadas, 
gigolôs com as namoradas, mendigos pedindo esmola, 
crianças indo para a escola. 

E hei de dizer
a teus olhos viciosos, 
copiosos ou descrentes...
Tu que isto lês,
também és gente? 

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Rolê em BH


Nessas tardes frias
andando pela cidade, 
pelas ruas vazias
sinto de algo ou alguém saudade,
penso no começo, 
penso no fim,
penso no futuro,
penso em mim.

Vejo um belo grafite
ilustrando um muro.
Pessoas apressadas andando, 
quase se esbarrando.
Moradores vivem em barracas debaixo da ponte.
Pedintes no passeio 
(que não cheira bem, por falta de asseio)
são alguns dos elementos que
compõe este Belo Horizonte. 

Um garoto me aborda, me oferece balas.
Compro-as. Não tenho dinheiro suficiente, 
mas alegre por ter tido um cliente, ele deixa assim 
e rápido desaparece, some por fim. 

Vendedores todo o tempo me perguntam:
"Em quê posso ajudar?"
Eu nada respondo, 
só quero passar.
Eu simplesmente me escondo destes trabalhadores
que querem a vida ganhar. 

A arte da sobrevivência 
estão os artistas de rua 
no semáforo a praticar.
Fazem um apelo à consciência dos motoristas que se entretem ao vê-los
enquanto o sinal abrir
ficam a aguardar.

Nesta selva urbana 
há de tudo, 
na minha frente, 
quieto e mudo
está uma estátua humana.
Um ar sorridente, 
algumas moedas no chapéu. 

Pichações xingam o presidente, 
casais discretamente saem de um motel.
Uma cigana quer ler a minha mão 
e o meu destino saber, 
recuso, não creio nessa superstição e não é esta anciã que irá meus problemas resolver.

"Pão de queijo, só um real."
Leio o anúncio, é ótimo o preço, entro e como um, 
afinal, depois de tantas voltas eu mereço. 

Uma aglomeração passa 
pela praça da estação, 
não é à toa, 
servidores protestam 
contra uma privatização. 
Juntam-se às reivindicações do manifesto 
petições por aumento de salário. 
A polícia acompanha de perto o protesto. 

Depois de muitos anos
entro no sebo onde eu ia com o meu pai.
Mas não vejo livros, 
só torneiras, telhas e canos, o que será que aconteceu?
O homem que me atende diz: 
"Aqui não é mais sebo, eu tomo conta agora."
Ele explica tudo, sem demora.
Fico surpreso, o senhor de olhar triste 
que vendia livros 
faleceu há alguns meses,
de câncer aos 83 anos, morreu. 

Volto para casa, foi longa a tarde, cansado.
Felizmente, o ônibus não está cheio, 
posso vir sentado. 
A cidade anoitece! 
Lotam-se os bares,
de dentro duma igreja ouço uma prece, 
assim despontam os noturnos ares.
Da janela eu avisto a cidade, 
e vou divagando, sonhando, 
e não sei do quê 
- ou de quem - sentindo saudade. 


O jogo


Fomos trazidos à mesa,
não nos perguntaram se queríamos jogar. 
Nos puseram na roda, 
temos que dançar. 

Neste jogo não ditamos as regras, 
só nos cabe aceitar
aquilo que vier, o que a sorte lançar. 

Não reclames das trapaças, 
não podes protestar.
Não estás aqui para festejar. 

Também não deves sair antes da hora.
Aceita o jogo ó homem, 
aceita o jogo que não pediste pra jogar!

 

Por quê?


Para quê me dão a vida 
se um dia me irão tomá-la?
Porquê essa ferida 
se não posso curá-la?

Porquê padeço angústias sem fim,
mil dissabores, desgostos e dores,
em mim aperfeiçoados? 
Porquê sofro pelos erros de outros, 
sobre mim recaem
as taras dos meus antepassados? 

Para quê os sentimentos, 
amargos, ácidos, para que servem?
Para quê os pensamentos, 
questionamentos, que em minha mente fervem?

Porquê o que eu quero não tenho, 
e o que não peço, isso obtenho?
Porquê eu insisto e não consigo, por mais que eu lute, por muito que me empenho? 

O que há de errado comigo, afinal?
Porquê me foge o bem e me persegue o mal?
Sou eu da tragédia abrigo?
Porquê tanta má sorte?
Será a minha sina sofrer,
viver desejando a morte?

O pombo


Andava eu distraído, 
olhando para frente, 
entretido, carregando sacolas, 
aconteceu de repente.

Penso comigo: o que foi isto? 
Nada vejo. Ora bolas! 
O céu está claro, 
algo me molhou 
e no entanto não choveu!

De onde jorrou
esse estranho líquido que 
do alto desceu?

Olho pra cima - lá está ele, 
o meliante no alto do fio subido,
é ele que em cheio me acertou, 
ali está o pombo
que em meu ombro cagou! 

O quarto da minha prima


Faz anos que não entro lá. 
Não sei se algo mudou, como deve estar. 
Só sei que eu cresci, ela também, o tempo passou, e não voltei àquele lugar. 

Éramos pequenos, 
puros, ingênuos! 
Além da idade, nos unia uma bela amizade, 
que eu não sabia que um dia viraria saudade. 

Hoje estás crescida 
e na vida - creio eu - bem resolvida.
Não te lembras mais 
dos teus dois primos,
sobrinhos de teu pai!

Há anos nos vimos, 
brincamos, nos divertimos! 
Mas já não nos conhecemos, 
mal nos falamos, 
em comum só temos
o sangue - que testemunha que primos somos!

O quarto da minha prima, 
como está, como deve estar?
Não sei, faz tempo que não piso lá, há anos não entro naquele lugar.