quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Metamorfose negra da alma

Floresce como uma flor,
sutil e secretamente.
Crescendo aos poucos o horror
nos mais profundos 
recônditos da mente.

Sentimentos, planos, sonhos
daí são oriundos.
Até mesmo os mais tortos 
navegam por esses portos e como são fecundos! 

Para que saiam da teoria 
e se tornem realidade
há todo um processo,
uma agonia, 
que não sei se é avanço
ou regresso.

A essência do bem e do mal habita em nós. 
Pode o mais belo cristal cortar, e a vítima tornar-se algoz.

Quantos desejos de vingança já não sentiu
quem injustiçado se viu,
inclusive a pura criança?

Quem nunca desejou 
e para ninguém contou,
que algo ocorresse 
à quem lhe provocou,
que o infrator morresse,
e a fortuna vingasse o ofendido,
levando quem o insultou?

É nesse vale escondido 
que reside todo o complexo, o ódio,
o desejo reprimido,
reflexo do que é
e ainda não se tornou. 

Tirai pois o véu 
e vede o que debaixo se esconde! 
Como é escuro, amargo mel,
livrai-vos das amarras e vede como o instinto responde!

Perdem-se os jovens em orgias, 
devoram-se vorazmente
ao som de estranhas melodias,
entregam-se ao deleite
e deleitam-se somente.

Aquela moça pura
já não têm ternura,
é agora uma senhora 
que só quer revanche, 
sem demora, só espera 
por uma chance. 

Num solitário abismo 
debate-se o seminarista 
contra nocivos pensamentos,
cruéis tormentos,
brotam-lhe raízes de um sólido ateísmo. 

Aquele que um dia orava a Deus, dirige-se a Satã.
Quem de noite lutava pelo bem dos seus,
agora os descarta e vende pela manhã!

O menino que não fazia mal à uma mosca,
hoje esconde os cadáveres que produziu,
admirando-os sob uma luz fosca. 

Que foi feito daquela que tanto sorria,
e há muito pela última vez sorriu? 
Onde está o brilho no olhar que iluminava a quem via,
e ninguém mais viu?

É tudo isso o mais sombrio processo de involução. 
Quando não bate mais,
dão ao morto uma pedra e lhe roubam o coração! 

Vede amigos, quão tênue é a linha que separa o bom do mau, como cresce a erva daninha,
e que pequena é a palma 
que leva à metamorfose negra da alma! 

domingo, 1 de outubro de 2023

Vilarejo fantasma

O vento que assopra nestas pradarias
trazem choros, 
vozes de outra vida
clamando em coro,
sussurrando lentas agonias.

É tão doce a calmaria
que se sente nesta mata, 
ver o fim do dia,
quando uma imensa saudade
nos corrói e arrebata. 

Lá no fundo há uma cidade 
escondida entre as montanhas. 
Congelada no tempo,
habitada por ninguém 
e cheia de ruas estranhas.

Outrora haviam casas,
casebres e casarões...
Escravos pisavam em brasas,
muitos gritos se ouviam ao capricho das sinhás 
e ao mando dos barões. 

Andar por essas vilas 
é sonhar o que alguém sonhou...
Ouro e riquezas 
misturados à dor e tristeza,
banhado no sangue 
que algum negro ou índio lavou...