sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Encerramento


Mais um ano termina
sem sequer ter começado. 
Doze meses novamente correram, sem que eu algo veja mudado.

Ó vida, para quê serves tu, 
senão para seres vivida?
Comerá, pois o urubu, uma carniça antes que esteja podre, fedida? 
Igualmente, que farei eu quando morrer, meu derradeiro suspiro reter, se já morto há muito estava em vida?

Eis que em mim bate um coração, vive uma alma!
Há de sofrer então, sem razão,
em vão perder-se a calma?
Se, pois, tempo para levar ao pódio o cavalo têm o cavaleiro em ligeira cavalgada, 
como pode ficar tudo inerte, 
paralisado, estagnada?

Pois assim termina o meu ano, 
morto e sem sonhos!
Não mais me iludo com meros enganos, nesse mundo insano.
Que passem maios, janeiros, 
mas que não passe o meu desejo de um dia zombar de tudo isso, destes dramas debochar ufano!

E que nunca mais se encerre 
como encerro este ano!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Lero-lero


Dinheiro não traz felicidade, 
esse ditado conheço desde outrora, mas ele é um bem, necessidade, quisera eu 
dinheiro ter agora!

As cifras não substituem, 
as notas não compram o amor, 
a comunhão e o andar com Deus. 
A família, os sentimentos também não se trocam.
Ah! Mas poderia realizar todos os sonhos, os sonhos meus!

Ser pobre é viver um drama de
ter sempre dinheiro mas continuar sem nada! 
O pobre se afunda na lama sem ser porco e sem chiqueiro, 
se ele é dado à vícios perde o pouco que têm, o seu teto, sua morada!

É a falta de dinheiro 
que nos faz pensar na vida! 
Rico ri à toa, 
esta é boa dita, na medida,
enquanto o pobre se afunda numa boa, sem precisar de barco ou canoa!

Mas chega de lero-lero, 
pois sem trabalhar a grana não vem, isto vale pra todos.
Mas se um dia eu descubro alguém que ganha dinheiro sem nada fazer, tranquilo eu vou viver - Ah, como isto eu quero!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Adeus

Errando pelo mundo, 
cambaleando pela vida. 
Confuso e perdido, andando em voltas, 
num labirinto que parece não ter saída. 

Não cheguei no topo do que eu queria. 
Ao contrário, me afundei, escorreguei e caí,
sem ninguém perceber. 
Estou no fundo do poço. 

Já não consigo sonhar, 
desejar nem querer. 
Sei que ainda sou moço, 
e tenho muito pra viver, 
mas me desculpe, 
eu quero morrer. 

Eu nunca disse que era forte, nunca disse que tanta dor assim eu suportaria. 
Não precisam ter dó de mim, essa foi minha sorte, o que posso fazer, ou poderia? 

A vida quis assim, 
desde o começo tramou o meu fim. 
Eu assisti a tudo isso perplexo, como se fosse uma história sem nexo, lamento ver a que ponto chegou. 

As ilusões se acabaram, por várias razões, 
uma a uma voaram. 
Abandonado fiquei 
e agora não sei 
para onde correr, 
me diga, pra que lado? 

Não chorem por mim, 
não se lamentem, 
apenas lembrem-se, 
eu estarei feliz! 
Me perdi no início,
agora pulo o meio 
e adianto o fim! 

Com tão desventurada sorte não podia ser diferente. 
Preciso renunciar para estar contente. 
Não vivi minha vida, 
agora morrerei minha morte!

A saída

Afundando num poço sem fundo tentando gritar ou pedir ajuda. 
Sem ninguém pra socorrer, em nenhum canto do mundo, ninguém pode ou quer entender, 
talvez o melhor seja mesmo morrer! 

O sol não aquece mais, 
as trevas não mais assustam. 
Pouco importa se há guerra ou paz, se caro
ou barato as coisas custam. 
A dor não faz gritar, 
a lágrima insiste em não rolar, não se sabe o que há de vir, uma piada já não faz rir.

O beco está sem saída, 
onde está a luz no fim do túnel? 
Porque viver assim a vida, 
se pode-se tomar um outro rumo? 

Essa decisão não é vossa! 
Isso todos dizem, mas mudar a história de quem isto quer, não há na terra quem possa. 

Uma mistura, uma solução, uma só dose, 
sem frescura, para acalmar o coração. 
Quem há de fazer censura 
se procuras tua cura 
através da overdose, 
queres mudar tua sorte de vida 
mesmo que seja pra isso a morte a saída?

Perdido

Hoje estou tão melancólico, 
tão bucólico,
melódico, 
filosófico, 
católico!

É mais um dia daqueles em que a alma perdida de si mesma, 
não sabe onde se encontrar!
Oh, quisera eu, tão confuso, ter paz e calma para o meu perdido eu encontrar!

Vago entre campinas e bosques, matas e riachos, córregos e pastos, me perco entre miragens citadinas, 
viadutos, avenidas, postes, prédios vastos!

Nesses instantes de sonho acordado, percebo um riso 
que talvez esconda um choro embargado vindo de mim,
sem razão, quando estou sentado no colchão com o jornal do lado!
Oh, que grande desventura,
só, sem amigos, esposa, parentes - desempregado!

Minha alma então vaga 
perdida de si!
Só o bom Deus 
pode trazê-la de volta ao corpo
e todos os meus problemas corrigir!
O Senhor que nunca me desamparou, nesse instante sombrio, é quem pode em meu auxílio correr 
e na minha dor intervir...

Pois nesse momento 
só tenho um sentimento,
um choro, lamento...
Pois me sinto perdido
num mundo bandido, 
onde só posso me sentir: 
melancólico, bucólico,
melódico, filosófico, católico!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Metas

Livros para ler, 
músicas para escutar, 
lugares para conhecer, 
sonhos para sonhar. 

Palavras para dizer, 
amores para amar. 
Flores para colher, 
reinos para conquistar. 

Altares para erguer, 
deuses para adorar. 
Traumas para esquecer, 
momentos para recordar. 

Viagens para fazer, 
plantas para regar. 
Pratos típicos para comer, 
danças para dançar. 

Cartas para escrever, 
negócios para tratar. 
Injustiças para sofrer, 
contas para pagar. 

Folhas em branco para preencher, 
trabalhos para entregar. 
Uma vida para viver, 
histórias para contar.

Frio

Frio como o vento,
meu coração vai.
Assim como no outono,
ele se desbota, no relento, 
sem motivo, 
como folha que um dia cai.

Vai batendo, o comando do resto do corpo respondendo. 
Ele vive, mas não se emociona,
grandes sonhos não ambiciona, 
há muito está morrendo. 

Peço então a Deus socorro, 
antes que ele morra, 
e eu morro.
A vida não é fácil, é verdade,
mas a cada um cabe saber 
do seu próprio sofrer,
da sua própria maldade. 

Eu quero, não sem razão,
antes que o meu coração caia
e com o frio do inverno vá,
Senhor Deus, piedade!

Hora de delírio

Hora de delírio! 
Escuto e discuto com minha alma, se sonho ou desperto, dentro ou na porta, se ela ainda vive em mim ou já é morta!

Cigarras cantam, pedem chuva ao bom Deus. 
Tudo isso é muito interessante,
me embriago deste canto
que também dá à mais um ano um adeus.

Hora de delírio!
Solitário e louco,
me vejo entre não poucos devaneios, infrutíferos anseios,
dentro de mim explode um grito, espreme-se o ser em seu sufoco!

Vejo os anos atrás,
um tempo que passou faz pouco, saudade viciante que em meu peito jaz, que de falar dela ficarei rouco. 

Hora de delírio!
Um menino feliz brincando vai,
feliz um tanto grande,
morrendo se vai sua alegria irradiante, na mesmice seu semblante cai.

Hora de delírio!
Que me faz escrever esses versos tortos, sem sentido como está o meu ser, 
abraçando na sorte de um desvario buscar consolo 
no disparate que protege os loucos!

Misantropia

Matai, ó Deus eu vos imploro 
minha misantropia que horrivelmente ameaça crescer a cada dia!
Sim, ó Pai, um fim nisso dai,
mudai minha mente, tirai-me dessa agonia. 

Já não suporto ver, conviver e ser um ser humano. 
Mas, errado demais isso vai 
contra o amor ao próximo pregado por Jesus, filho de nosso Senhor, Deus Pai.

Mas então, porquê razão 
tenho ojeriza a este ser?
Seria em vão, ou há motivos
para isto haver?
Digam-me então: que animal mata os próprios pais, rouba, destrói, calunia, fofoca, mente, corrompe, corrói, 
nem sempre na inocência 
mas por prazer?

Que bicho humilha a seu irmão 
por ele ser "inferior", sem se preocupar com a sua dor, os nobres sentimentos do seu pobre coração? 

Tudo isso e muito mais
obras do homem são. 
O "ser racional" faz-se perder a razão, comporta-se pior que um animal!

Mas ó Deus, eu vos peço 
tirai de mim tais indagações.
Sei que ao fazê-las perco minhas razões, pois o homem do qual também sou um,
é a mais nobre de todas as vossas muitas criações. 

Assim estou vos pedindo,
Senhor de tudo e de todos criador, dai-me do vosso amor!
Uma porção generosa 
concedei-me todo dia,
para aplicar ao meu coração e acabar enfim
com essa misantropia!

Poetas

Quem há de julgar-se sábio, 
senhor de si, sabichão e douto?
Dono da razão, conhecedor de quase tudo, das ciências um dominador, voraz e não pouco?

Que há de argumentar, 
assim dizer, para quem lhe arguir tal sujeito?
Se não há neste mundo certeza de nada, felicidade,
senão desrespeito, maldade,
desgraça sobre desgraças empilhada?

Pois eu vos digo 
sobre isso refletindo,
que não há quem assim possa ser! 
Mas o maior perigo é ser possível certas pessoas
acharem tais sujeitos ser!

O mundo, redemoinho inconstante e não pouco, cabe de tudo um pouco.
Tais pessoas que assim julgam ser, são aquelas que fazem versos, 
querem mudar o mundo, 
sem contudo nada pra isso fazer!
São malucos na verdade, 
por isto eu digo sem dificuldade:
Perece um poeta, morre um louco!

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

La muerte

Quero me embriagar do vinho inebriante, provar o mel mais doce e viciante que pode existir. 
Preciso dessa chama faiscante, flertar esse olhar misterioso, 
essa sombra a me seguir.

Quero tomar esse caminho sem volta, sozinho, meu destino assumir. 
Entrar nessa dança hipnótica, 
ouvir do mais raro som 
da música mais exótica. 

O perfume mais cheiroso, 
a flor mais bela.
O espinho mais furioso,
a mais gótica capela!

Reis e rainhas dela se vestiram com glória, em todas as eras, nos mais remotos séculos da história! 
Quero eu também usar dessa seda, tão preciosa coroa, 
tão desdenhada vitória!

Eia, avante, não recuo um instante da minha derradeira e definitiva sorte! Venha, provemos o andar galopante, tomemos esse cálice - sintamos a morte!

Dualismo

Aquele momento em que a alma, já cansada, insiste em sair do corpo, alçar vôo 
e liberdade, rumo ao infinito...
Está perturbada, quer sua cidade, onde tudo é mais fácil e bonito...

Quer se livrar desse corpo frágil, 
destrutivél e pecador...
Rumo ao eterno, imperecível,
o mundo dos espíritos, das luzes, do amor!

Ó alma, suporta com calma 
o duro fardo que te é imposto,
de habitar esse corpo e morrer com ele!
Dizem que tu és imortal,
não creio que seja, 
observa, vê, somos tão físicos como um animal!

Sim alma, aquieta dentro de mim, podes esperar a morte do meu corpo, que também será a tua sorte, o teu, o nosso fim!
Isto alma, aguenta firme, tu és minha e eu sou teu, 
estamos juntos, somos um só,
és tão somente o meu intelecto, 
a minha mente!
Tu não serás sem mim nem eu sem ti!

Não percas a calma 
ó querida alma! 
Pois a sorte do meu corpo será também a tua, já que não há sol sem lua, meu fim será o teu,
minha morte a tua!

domingo, 12 de dezembro de 2021

Donos da história


Queria ter estado lá esse dia, 
espiando entre as verdes moitas, ver o que aquelas duas almas, mentes e mãos afoitas
iriam fazer, o começo de tudo 
que mais tarde viria. 

Sem dúvida nenhuma 
a rastejante foi quem armou,
mas sem a ajuda deles 
não haveria tragédia alguma,
o barraco não desabaria 
como desabou!

Lúcifer, terrível e manipulador, sem maiores problemas a mãe de todos os viventes, enganou. 
Mas pudera, pois desejara em seu coração, em seu íntimo quisera, sonhar o pecado 
de ser a criatura tão sábia quanto o criador,
e caiu no mesmo erro
daquele que das trevas é senhor. 

Tal desejo, arrogante, prepotente, incitado pelo mal em forma de serpente, não podia terminar bem.
Sem saber o que faziam 
do fruto proibido comiam, 
a própria raça afundavam 
num caos, sem precedente tal.

Tornou-se então o homem mortal, o diabo seu pai.
Aprendeu o ódio e a guerra. 
É pó e volta à terra,
seu corpo aprodece,
e enterrado vai.

Que proveito houve, afinal,
provar da árvore do conhecimento do bem e do mal?
Herdar o inferno, viver com os demônios uma relação fraternal?
Tal fruto custou muito caro, 
mas não é ele a causa de todo o mal.
É a serpente, mas não ela somente, e o homem com o seu desejo de ter o que não podia, 
querer o que não lhe pertencia.

Como sorte, temos muitas dores, de brinde a morte,
vivendo uma vida curta, 
um espetáculo de horrores. 
Contudo, de tudo não perdemos
nossa dignidade e glória, 
temos a santa cruz, 
o bendito salvador Jesus!

Se os dois primeiros humanos
culpados ou inocentes são, 
não compete à minha memória, 
seja como for, são os nossos pais (carrascos ou benfeitores)
os donos da história!

Arredio


Sozinho em uma casa sombria, 
solitária e fria,
ele mora.
Com medo de tudo, 
de todos receoso, ele vai,
lava suas mãos na pia, 
de noite em seu quarto ora.

Sem motivos para sorrir, 
ele graceja.
Sem razões para se alegrar ele gargalha, talvez de si, da tristeza pestaneja.

Rir da própria desgraça é melhor do que rir da alheia. 
Então ele ri, não é pior do que um mendigo na praça, têm pelo menos calçado e meia.

Sem razões para amar,
ele simplesmente não ama.
Não crê no humano ser, 
mas não maquina maldades
na sua cama.

Não bebe, não fuma, 
não se droga.
Não têm vícios, 
talvez o seu maior defeito seja
não dizer, mas demostrar,
que quase nada o empolga. 

Não têm amigos, 
não têm mulher, 
não têm emprego. 
Seus parentes não o amam,
a morte não o quer,
sua vida é um constate desapego. 

Sozinho ele vai, 
só ele prossegue.
Sua mente em mil tormentos cai, o medo é seu amigo, o fracasso o segue.

Na casa sombria, solitária e fria, 
seu universo é vivido.
Seria o seu mundo 
o oposto do que é pedido?

Soloquios e encostos lhe são comuns. Estes vivem com ele,
não são muitos, só alguns, 
o perseguem todo o dia, 
lhe fazem pecar 
na casa solitária e fria.

Ele não têm amigos, 
mulher ou emprego. 
Sua vida é vivida em constante desapego, assim todos os dias, 
na casa solitária de paredes frias. 

Ele já não ama, não tem porque amar. Então ele segue seu ideal, 
nada o pode parar.

Sem amigos, mulher ou parentes, senão seu umbigo, 
seus míseros dentes.  
Como é ruim partir
sem se despedir!

Não há emprego, 
compromissos a cancelar.
Abruptamente risca o isqueiro,
seu fim vai chegar!

Ele sabe que pode se arrepender, mas não há tempo a perder. Está resoluto, nada o vai deter.

Lentamente, o fogo vai se alastrando, a casa fria se aquecendo, seu corpo de dores
retorcendo, a casa escura se iluminando, paredes duras derretendo. 

Em chamas se vai
a casa sombria, solitária e fria
junto com o seu maldito senhor. 
O que se pode esperar 
quando morre
a necessária chama de amor?

Já não há mais casa,
apenas cinzas.
Porém, seres do mal brincam, 
matam sua fome, saciam-se com a alma do pobre homem.

A casa sombria cheira a enxofre. 
Demônios a brincar lá estão, num riso despaterno, a brincadeira acabou, enfim arrastaram mais um idiota pro inferno!

Sozinho em sua casa solitária, sombria e fria, ele morre.
Anjos do mal a ver sua ruína correm.
Sim, assim cai, este é o seu fim,
desgraçadamente ele morre. 

Esta é a história que eu ouvi um dia da casa sombria, 
solitária e fria!