Me diga de onde vens,
de que lugar, que forma tem,
qual a cor do teu sangue,
azul ou verde, qual a tua gangue, a tua sede.
Quem são os teus pais,
são vivos, se mortos
em que cova jazem?
És tu mais um perturbado
que anda pelado,
és navio sem cais?
Qual a tua maldita, bendita,
louca, desgraçada, infeliz,
desvairada ascendência?
Tua parentela é normal,
faz tudo como manda o figurino,
do vô ao menino é formal,
tens de tudo isso ciência?
Tens sangue de nobre ou plebeu?
Em tuas veias finas, tortas,
mortas e feias,
corre cobre ou ouro,
o que tens, Bartolomeu?
Dá-me tua árvore genealógica
que eu descubro a tua lógica,
absurda, inexata, bizarra,
abstrata, eu saberei dizer-te tudo meu rei!
Verei através da tua raça
o teu destino, tuas doenças,
vícios, sapiências, sorte, desgraça.
Então saberás que assim como
faz-se da pipoca o milho,
há mesmo verdade de pai pra filho!
Tuas chances de sucesso,
de êxito ou regresso (dizem),
nisso aí estão.
Se tu nisso crês,
o problema é teu,
um mesmo anel não vale
pra todos os dedos da mão!
Sê tu mesmo,
se o teu pai foi linguiça,
sê torresmo,
não fracasses como ele,
ao menos inventes uma merda diferente então!