terça-feira, 17 de maio de 2022

Ascendência


Me diga de onde vens,
de que lugar, que forma tem,
qual a cor do teu sangue, 
azul ou verde, qual a tua gangue, a tua sede. 

Quem são os teus pais, 
são vivos, se mortos 
em que cova jazem?
És tu mais um perturbado 
que anda pelado,
és navio sem cais?

Qual a tua maldita, bendita, 
louca, desgraçada, infeliz, 
desvairada ascendência? 
Tua parentela é normal, 
faz tudo como manda o figurino, 
do vô ao menino é formal, 
tens de tudo isso ciência?

Tens sangue de nobre ou plebeu? 
Em tuas veias finas, tortas, 
mortas e feias, 
corre cobre ou ouro,
o que tens, Bartolomeu?

Dá-me tua árvore genealógica 
que eu descubro a tua lógica,
absurda, inexata, bizarra, 
abstrata, eu saberei dizer-te tudo meu rei!

Verei através da tua raça 
o teu destino, tuas doenças, 
vícios, sapiências, sorte, desgraça.
Então saberás que assim como
faz-se da pipoca o milho,
há mesmo verdade de pai pra filho!

Tuas chances de sucesso,
de êxito ou regresso (dizem),
nisso aí estão. 
Se tu nisso crês,
o problema é teu,
um mesmo anel não vale 
pra todos os dedos da mão! 

Sê tu mesmo, 
se o teu pai foi linguiça, 
sê torresmo,
não fracasses como ele,
ao menos inventes uma merda diferente então!

2017


Os olhares estão tristes, 
pedindo ajuda.
Nas cabeças os problemas 
insistem em assolar os pobres coitados, 
que Deus nos acuda!

Há pobreza e miséria em todos os cantos, a escassez é geral.
Por hora não há muita esperança, 
por sua vez é normal que haja prantos, pois o desemprego é total.

Os trabalhadores procuram serviço mesmo assim,
formam-se filas enormes,
eu também numa delas me vejo, também passo por isso,
pobre de todos, pobre de mim!

Mudou-se o presidente,
mas não a situação. 
De nada adiantou o golpe, 
permanecemos descontentes, 
a recessão continua, 
a crise só piorou!

Fala-se em reforma da previdência,
em direitos perdidos. 
Não é de se estranhar, 
para o brasileiro sofrer é a norma, 
vítima de governos bandidos. 

Não há perspectivas de melhora para o Brasil! 
Quem poderá nos salvar de toda a corrupção, toda a falência, pobreza, 
quem sabe talvez só uma guerra civil?

Assim está a nação, assim estão os pobres!
Procurei retratar com eficiência o quadro atual, 
do qual só escapa em parte o burguês, a elite e os nobres!

Como é duro pesar sobre nós 
o jugo da história! 
Como é ruim assistir a tudo isso, a toda essa vergonha e inglória! 
Para esse filme não quero reprise, não há necessidade 
de vermos outra vez 
tamanha dificuldade, absurdo, 
disparidade, nunca mais, 
por nada, outra econômica crise!

Vale dos suicidas


Todos os fracos, pusilânimes, 
covardes, juntos, reunidos então. 
Como bons amigos, 
que na morte buscaram abrigo, 
lado a lado, como uma irmandade, um irmão. 

Cada qual com seus motivos,
alguns até sem nenhum. 
Mas com um mesmo fim,
desejaram alívio, e o tiveram (ou não), simples assim!

Quem pode condenar essas almas, 
quem amaldiçoará essas vidas? 
Somente o criador sabe o que será delas, que fim finalmente terão. 
Essas mentes atordoadas, 
moídas, feridas, que em todas as épocas buscaram a sua própria glória, entraram pra história, e juntas formam, 
compõe o vale, 
o vale dos suicidas!