terça-feira, 17 de maio de 2022

Ascendência


Me diga de onde vens,
de que lugar, que forma tem,
qual a cor do teu sangue, 
azul ou verde, qual a tua gangue, a tua sede. 

Quem são os teus pais, 
são vivos, se mortos 
em que cova jazem?
És tu mais um perturbado 
que anda pelado,
és navio sem cais?

Qual a tua maldita, bendita, 
louca, desgraçada, infeliz, 
desvairada ascendência? 
Tua parentela é normal, 
faz tudo como manda o figurino, 
do vô ao menino é formal, 
tens de tudo isso ciência?

Tens sangue de nobre ou plebeu? 
Em tuas veias finas, tortas, 
mortas e feias, 
corre cobre ou ouro,
o que tens, Bartolomeu?

Dá-me tua árvore genealógica 
que eu descubro a tua lógica,
absurda, inexata, bizarra, 
abstrata, eu saberei dizer-te tudo meu rei!

Verei através da tua raça 
o teu destino, tuas doenças, 
vícios, sapiências, sorte, desgraça.
Então saberás que assim como
faz-se da pipoca o milho,
há mesmo verdade de pai pra filho!

Tuas chances de sucesso,
de êxito ou regresso (dizem),
nisso aí estão. 
Se tu nisso crês,
o problema é teu,
um mesmo anel não vale 
pra todos os dedos da mão! 

Sê tu mesmo, 
se o teu pai foi linguiça, 
sê torresmo,
não fracasses como ele,
ao menos inventes uma merda diferente então!

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