sexta-feira, 10 de abril de 2020

Setembro

Águas caindo,
tempo frio.
Sentimentos indo e vindo
fluindo como um rio.

Tempo parado,
bom de nada fazer.
Um silêncio tão bom,
tudo calado,
folhas ao vento a se mexer...

É um dia triste
ou talvez triste esteja eu!
Pois sinto melancólica
a melodia da chuva
que com suas gotas insistem
em caírem fortes no telhado,
como ataques de um tropel!

É assim que enfim penso na morte,
a inimiga (amiga) do homem...
Por que hei de ter eu medo de tão conveniente sorte?
Estando eu ciente que eu sei
que só me assusta o nome,
que soa forte...

Mas saibam que nada há o que temer,
pois pior do que morrer,
é voltar sem jamais ter ido,
é perder sem ter jogado,
é morrer sem ter vivido!

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Entardecer

Caem os últimos raios de sol sobre as colinas,
expiram as derradeiras frestas de luz nas mais distantes campinas.

Retorna o trabalhador de sua jornada, carrega nos ombros sua ferramenta.
Com um semblante cansado,
o corpo suado
e empoeirada vestimenta.

Surge a noite radiante!
Já se encontra em casa o pastor,
suas ovelhas bem protegidas,
recebe ele agora dos filhos abraços,
da sua mulher um beijo
irradiante e cheio de vida.

Madrugada adentro, a escuridão cai...
um mendigo dorme ao relento,
todos os seres noturnos fazem seus trabalhos, e não demora a noite se vai...

Mais um dia surge,
a esperança novamente ressurge,
entre as matas e usinas,
montes e colinas,
bosques e ruas citadinas.
Desperta o infeliz de sua agonia
ao primeiro raio de sol,
já se é um novo dia...

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Entreatos

Temos uma vida inteira pra viver
e pouco tempo pra sonhar.
O que vai ser de mim e de você
quando tudo acabar?

Não me venha com promessas
muito menos ameaças.
Deixe-me ir pois tenho pressa,
não posso ficar aqui parado
enquanto tudo passa.

Hoje sou dor,
amanhã serei saudade.
Me desculpe por fazer isso,
sei que é feio largar o prato pela metade!

Não pretendo ser um infrator,
só quero exercer o meu direito
de ser humano, 
errar e não ser perfeito.

Sou o que sou
ou aquilo que fizeram de mim.
Há muita coisa em jogo,
não é tão simples assim.

Você vê tudo do seu jeito
usando idéias pré-fabricadas.
Eu não dividido as coisas em um conceito,
se a realidade me mostra
fatos concretos e verdades censuradas.

Não espere de mim
mais do que eu posso dar.
Somos iguais mas diferentes,
nem sempre vamos concordar.

Quero seguir o meu caminho,
preciso me arriscar sozinho!
O que não sei irei saber,
com o tempo vou aprender.
Entre o primeiro ato e a última cena,
quando tudo terminar
terá valido a pena?

terça-feira, 7 de abril de 2020

Infelicidade

Contemplo a vida como um sonho
ou um pesadelo de quem ainda não acordou.
Desesperado, as mãos nos cabelos ponho, sou uma folha que pra longe o vento levou.

As esperanças estão todas perdidas, os sonhos não mais existem.
Não sou um gato, tenho uma, não sete vidas,
trago no corpo e na mente
não uma somente, mas muitas feridas.

Já não sei o que quero, o que quero já não sei.
Sigo à procura do paraíso,
do meu verdadeiro sorriso
pondo minha fé no grande rei.

Nossos dias são curtos, passam rápido,
são vividos às vezes fácil,
outra hora com sustos,
somos poeira e nem sempre nos damos conta,
fazemos o que dá na telha,
pra onde o nariz aponta.

Salva-me Deus, ressuscita-me
com todos os sonhos meus!
Ajuda-me Senhor com teu grande amor,
pra que evite um crime, um homicídio,
pra que não suje as minhas mãos
com (oh, que horror!) o meu próprio sangue, não cometa suicídio!

Mais dia, menos dia

Grito, mas ninguém parece me ouvir. Sou corroído, mas ninguém pra intervir.
Não quero mais sofrer,
mas não posso nem desabafar,
pois ninguém vai compreender.

Os dias passam, maldição,
mas nada muda.
Foi-se embora a esperança,
com razão, deixaram o preso,
engoliram a chave,
jogaram fora a fiança!

Mais dia menos dia,
acabo com essa brincadeira de mau gosto,
me enfado, enfezo e faço logo uma besteira.
Já sei o que vão dizer,
mas não quero nem saber,
todos esses malditos julgam,
mas nem um sequer
procura entender!

Sim, mais dia menos dia
eu viro macho, crio coragem
e boto fim nessa sacanagem!
Resolvo todos os meus problemas,
saio de cena, acabo com esse diacho,
dane-se o que vão pensar,
eu só quero poder me matar!

segunda-feira, 6 de abril de 2020

A encalhada

A encalhada quer arrumar um marido!
Pobrezinha, quer porque quer namorar, até deu pra fazer buscas sem sentido.

Ela enfrenta agora um problema,
se envolveu com homem casado,
lá em casa este é o único assunto,
seu dilema rouba toda a cena.

Não sabia ela,
que mexendo no Lovoo
iria se estrepar
como se estrepa na armadilha o tatu?
Sim, ela sabia, mesmo assim insistiu,
uma desventura de amor estava querendo.

Que fim teve a história da encalhada?
Caro leitor, se eu não sei,
como vai você ficar sabendo?
Sei que esta jovem,
muito sentimental é,
seu sonho maior é ter um marido
que a chame de mulher.

Seja como for,
com ou sem amor,
tranquila ou desesperada,
não ter mais
o triste status de encalhada.

Bala

Bala, que atravessa o peito,
fura a boca,
rasga a língua,
quebra os dentes.
Vaga à míngua,
com sons estridentes,
acha no corpo o seu leito.

Recarregada ou única,
certeira, errada, perdida.
Aprendeu a voar crua,
só em seu caminho,
trazendo pra muitos
sentença de morte ou vida.

Não ama nem odeia,
o corpo humano é sua cama,
seu leite é qualquer veia.
Como tudo deixa rastro,
poças de sangue incendeia.
Sua missão é maldita,
pro atirador bendita.

Arrasta pro caixão,
IML ou mesmo vala.
Ligeira, insana,
odiada, profana,
simplesmente bala.

Convocação

Clama o sangue inocente vingança!
Pede o pobre injustiçado, justiça,
do homem que só mente,
do criminoso que se liberta sem fiança.

Pesa em nossas costas
o jugo da escravidão.
Não deveríamos, se preciso for,
contra esses bandidos depor
lutarmos com as armas postas,
resistir à servidão?

Os tiranos se assentam,
reunidos se apresentam.
Essa casta não foi exorcizada,
contra ela nem o melhor sacerdote, nada pode.

Vamos guerreiros, lutai até à morte!
Esforçai-vos, não deixeis traçarem assim a vossa sorte!
Uma nação não é feita para os governantes, mas sim o contrário.
Não obedeçais sem razão,
não percamos o nosso direito, nosso salário!

Derrubemos essa corja de plantão,
façamos, se preciso, sim, uma sangrenta revolução!

Vozes

Vozes humanas, sempre presentes,
não importa se são grossas ou finas, nunca estão ausentes.
Onde quer que se vá tem uma,
mas há quem a tenha
e dela não saia fala alguma.

Vozes humanas nunca se calam,
de política, futebol,
assunto sério ou baboseira
sempre falam.
Bonitas ou feias,
ainda assim dialogam,
na dor gritam,
na dúvida te interrogam.

Xingando ou choro escondendo,
gritando, cantando, rindo,
de prazer gemendo,
tristes, embargadas,
normais, nervosas.
Com o seu jeito que a ninguém engana, esta é a voz humana.

Maldita

Maldita sociedade,
que prende os homens numa grade,
malditos, infelizes, desgraçados,
"santos" cheios de maldade,
madames meretrizes,
torturadores mutilados!

Filhos do demônio,
matam inocentes,
destroem a camada de ozônio!
Cães vorazes,
tarados sagazes,
fazem tudo às ocultas,
toda a sua ruindade,
sem que jamais o saiba
a "alta sociedade".

Entre normas e regras,
vão sempre ao culto e a missa,
os mesmos que fumam e se drogam,
a moça que ao estranho se entrega.
Não fazem isso todos, mas muitos sim,
mentes poluídas, ressecadas, ressentidas,
tão falsas como a minha sombra sem mim!

Tudo o que se pode dizer, hablar, parlar,
deste mundo ilusório e dessa sociedade,
é não negar sua falsidade,
oculta maldade,
eu que nada sei assim hei dito,
maldita sociedade,
clube maldito!

Pensando

O que tu estás pensando,
tenho até medo de saber.
Quando falo e não respondes,
alguma coisa me escondes
no profundo do teu ser.

Certamente, na minha mente
passa uma idéia estável:
o que falo não te agrada,
meu falar te enfada,
ou o assunto não é agradável.

Seria apenas
a resposta oculta no teu cérebro,
(não exposta), ou algum sonho demente, voluntário, solitário, inconsciente
que por acaso abrigas nesta tua mente?

Quais recados, pecados,
fadas e fados, estão aí ciscando?
Eis aqui, não falo somente,
tenho receio da tua mente,
tenho medo de saber
o que tu estás pensando!

A Liberdade

De que me vale a juventude
e a tenra idade
se me foge a paz e me domina a inquietude,
meu espírito não conhece felicidade?

De que me servem os sonhos
se não se podem concretizar tão simplórios anseios?
Para quê me ponho a pensar
se sei que a sorte é má
e dia após dia perecem os devaneios?

Oh! Vós sabeis que sofro
e com meu olhar vos peço socorro!
Sois testemunhas deste padecimento, não me julgueis,
sou vítima deste sentimento,
não penseis que me comprazo,
ou não vistes que por esta razão definho, por isso morro?

Ah! Alma atormentada!
Da vida infeliz,
estrela errante e assaz amargurada!
Escuta o que o teu coração diz;
Busca o teu alívio,
sai deste suplício,
que sem razão estás aprisionada.

És livre, volta pro teu lar.
Não pertences a este mundo,
tão cruel, negro e profundo,
tu és cometa, és astro, podes voar.

Ah! Não penseis que sou cruel!
Não façais de mim juízo errôneo.
Se a mim coube tanto sofrer
e amargo fel,
como podeis culpar a pobre criatura que não teve similar, não conheceu idôneo?

Ah! A liberdade pode estar
mais perto do que se imagina.
Basta cruzar a fronteira,
pular o muro, rasgar a cortina.
O que se atrever a atravessar,
verá a luz no fim do túnel,
a forte claridade que põe fim à cegueira.

Oh! Não choreis! Não lamenteis!
Nem todos os becos têm saída,
nem tudo é belo, nem todos são fortes.
Se isto sabeis, como podeis condenar com maldição 
àquele que não teve opção
que tão somente
encontrou na morte a solução pra vida?

domingo, 5 de abril de 2020

A ampulheta

Oh, se eu pudesse descrever o tédio profundo que habita em minh'alma!
Palavras para tal não teria,
que grande dificuldade haveria,
perderia até mesmo a calma!

Oh, mas porque transcorrem assim os dias, tão rápidos, ligeiros,
pra que em mim pesem agonias,
fardos e espinhos certeiros?
Transcorrendo-se vão,
tal como a areia de uma ampulheta
na mão de um prisioneiro,
a ver correr assim tão rápido
seu pouco tempo em vão!

Nesta terrena e breve existência
cada grão de areia conta.
Mas para impedir que ela passe
sem proveito, não existe pra isso ciência,
mesmo que pesquisem em todo lugar,
se esquadrinhem livros de ponta à ponta!

É inútil pensar no tempo perdido!
Passado foi, não volta mais.
Mas o tempo futuro, o dia que ainda não chegou,
pode-se mudar o que ainda não veio,
basta lutar e ser capaz!

Só o supremo autor da vida
é que sabe quanto da areia
ainda falta pra escorrer.
É ele quem pode nos ajudar
a melhor proveito dessa corrida obter!

Não sei quanto tempo da minha areia escorreu.
Se muito ou pouco, nunca saberei.
Mas que importa, se pouco ou nada
já pereceu?
Saber em nada me daria alento.
Pois eu sei que pra essa ampulheta não há recursos, afinal,
a vida é corrida contra o tempo!

Raio de luz

Neblina escura,
enevoada aurora,
que os ventos da vida levaram,
arrastaram à esmo,
desde muito até à presente hora.

Folha levada pelo vento,
nau naufragada,
pelos males presentes desolada 
buscava alento.

Chama de fogo quase a se apagar,
luz de vela a se extinguir,
perfume a não mais exalar,
lábios cerrados a não mais sorrir.

Verme que devora o corpo morto,
navio perdido fora do porto,
bússola que não apontava para o norte...
Tudo encaminhava à uma horrível e pavorosa morte...

Mas eis que Deus me ampara e ajuda, minha desventurada sorte muda!
À um terrível pecador, lhe oferece de graça seu amor,
para um rebelde nato,
perverso sem razão,
eis aí o seu doce perdão!

Oh, como é bela essa esperança!
Tornar-me preciso, ante ti Senhor, como uma criança.
Sim, ilumina a todos que te vêem,
ó amado salvador Jesus,
reaviva o mundo com o teu sangue,
a tua luz, a tua cruz!

Contemplai o amor,
crede no bom pastor,
aceitai ó homens
em vosso coração
o messias Jesus!

Penumbra

Luz e sombra atravessam a cortina,
por uma fresta entram,
se detém no quarto,
iluminam a curiosa retina.

São as horas que restam
de um dia que finda.
Exalam o aroma da tarde
ou a agonia da noite que não chegou ainda.

Contemplo este show
deitado em meu leito.
Divago sobre o que passou,
o que pode ocorrer e o já feito.
Tal qual esta penumbra me vou,
a buscar o meu caminho,
entre a escuridão e a luz,
o pentagrama e a cruz,
o medo e a razão,
o desejo e o coração.

Dividido estou com tantos conceitos, indeciso sigo,
banhado em prantos secretos
e sorrisos mal feitos.

Tal qual esta penumbra,
minha mente vagueia,
entre luz e trevas passeia,
uma idéia vislumbra;
Reflito o que sobre mim a vida deixou,
me escondo na sombra que me oculta da luz que me clareia.

Oscilação

O auge da decadência,
o declínio do apogeu.
O começo da queda,
o limite da paciência,
o castigo eterno de Prometeu.

O início da matança,
o mais rigoroso inverno,
o fim da bonança,
o princípio da ruína,
o fim da ascensão.

O luto pela chacina,
o carro na contramão.
A criminalidade,
a escassez da vacina,
Nagasaki e Hiroshima,
atômica explosão.

A queda da bolsa,
a recessão da economia,
o declínio do império,
os obscuros conceitos da filosofia.

A recompensa dos justos,
o castigo dos maus!
A terrível anarquia,
o começo do caos!

sábado, 4 de abril de 2020

Viver

Viver é sofrer, é chorar,
experimentar a cada dia uma nova dor.
Amar a vida, mas não ter com o próximo um mínimo de amor.

Cicatrizar as próprias feridas,
piorar a dos outros.
Se eu tenho muitas posses,
a ti só desejo mesmo a morte,
viroses e muitas tosses,
que não tenhas onde cair morto.

Ir à igreja, mas não ir pro céu.
Em secreto matar, invejar,
tomar bastante cerveja,
a própria lepra cobrir de veú.

Criticar a política, ladrões corruptos,
se porém em uma blitz (não esperada, surpreendente, mística)
for pego, suborna o guarda
com muita grana, granada,
cifras da orelha ao rego.

Competir com os amigos
quem mais pega, beija, faz sexo,
enfrentar perigos, perder tanto tempo investindo em futilidades sem nexo.

Orgulhar-se do nada que se é,
achando tudo ser.
Sou mais jovem, rico, forte que tu. Coitado! Nada podes fazer.

Comprar o mais novo eletrônico de última geração, gastar muito com o que pouco serve,
não valorizar o que vale,
à um mendigo fechar a mão.

Pensar no próprio umbigo,
por orgulho no aperto não pedir abrigo,
não amar nem ser amigo,
inocentes odiar sem nenhum motivo.

Querer a terra e não o céu,
pelo time do coração matar e morrer, sem razão se dar mal,
desnecessariamente se foder.

Dizer-se de Deus sendo primogênito do diabo.
Sou santo, maiores são os pecados teus que os meus,
sou limpo da cabeça aos pés,
tu, sujo do nariz a boca,
da unha ao rabo.

Batalhar todos os dias
pelo diário pão.
Garantir seu sustento,
buscar um alento, um ombro amigo,
aos próprios pais levantar a mão.

Triste, ilusória, curta é a vida!
Muitos assim vivem,
sem querer os erros de seus parentes revivem,
amam a dor e não o prazer, buscam o inferno,
sim, assim gastam todo o seu viver!

Humanos

Presos em uma bola azul,
suspensa no ar e sempre girando,
quase nunca sabemos o que é amar, a nossa própria raça estamos matando.

Poluindo rios, mares e oceanos,
não consertamos, só destruímos,
geralmente não obedecemos a Deus, viramos maçons, satanistas e ateus,
ao demônio muitas vezes ouvimos.

Somos muitos e também poucos.
Não aceitamos o diferente,
não gostamos do crente ou descrente,
nem tampouco do preto,
favelado, veado e louco.

Para quê trabalhar,
se é muito mais fácil assaltar?
Por que lutar,
se posso ter tudo de graça, roubar?

Quando Lúcifer do céu caiu
com um terço dos céus consigo levado,
e Eva do fruto comeu,
não houve maior desgraça,
genocídio maior na raça humana
não mais se deu.

Quando o filho de Adão
cheio de inveja matou seu próprio irmão,
um prenúncio então se viu,
daquilo que seria, mais tarde se veria,
da pobre sinfonia de sangue e morte, a humana sorte.

Ai de mim, que carrego esta idéia
tão certa como as nuvens do céu!
Não temos sido filhos de Deus,
mas do diabo,
somos irmãos de Caim
e não de Abel!

Dias sombrios

Dias sombrios virão
sobre toda a humanidade,
quando Deus derramar as taças de sua ira,
punir, dissipar toda a maldade.

Dor e pranto virão,
gritos e urros se ouvirão,
os fortes escondidos chorando pelos cantos,
sangue escorrendo na minha, na sua, em nossas mãos!

Filhos de dores, ou pais de horrores,
nossos filhos serão.
Sofrerão atrocidades, ou compactuarão com maldades,
só Deus sabe que coisas farão.

Adorar a besta, ou morrer por se negar,
perder a cabeça,
ou herdar o inferno por em terra se prostar!

Coisas terríveis,
assaz horríveis,
aos olhos dos soberbos homens esguios.
Tudo isso ocorrerá
quando a humanidade à seu termo chegar, sim, dias sombrios.

Paz em meio a guerra

Quando estiveres triste 
e não tiveres mais esperança,
lembra-te que Deus existe,
põe nele a tua confiança.

Quando todas as portas se fecharem e no beco não houver saída,
lembra de quem só ele é,
o caminho, a verdade e a vida.

Quando a tempestade vier
e o mar furioso se agitar,
não precisas temer,
a uma ordem do mestre, tudo vai se acalmar.

Quando estiveres ansioso,
e do futuro receoso,
lança sobre ele toda a tua ansiedade,
para aquele que de ti cuida,
e do Pai cumpriu toda a vontade.

Quando não houver mais paz 
e tudo for dor,
lembrai-vos do Evangelho,
da mensagem da cruz...
Levantai vossos olhos,
contemplai o filho de Deus,
amai a Jesus!

Barroco

É das muitas fases da arte,
de longe a minha preferida.
Por retratar o mundo como é,
sem retoques, floridos,
mas sim na sua real medida.

Quisera eu uma daquelas belas pinturas ou poemas ter composto!
Mas só de admirá-los em toda sua formosura, me satisfaço,
a olhá-los com ternura estou sempre disposto.

Vejo seus traços, imagino os belos braços que a pintar o faziam.
Pedaços de si deixavam, não rabiscos,
imagens vivas de seus seres, em versos esparsos, formas de heróis ou meninos, em emblemáticos chuviscos.

Celestiais nuvens ou terríveis infernos!
Verdades humanas em versos, pinturas, célebres esculturas,
oscilação constante de um ser curto de dramas eternos.

Que mais desta maravilha hei de dizer?
Se sempre dela gostei, como uma fada querida, antes que nem havia porquê,
quanto mais agora, que vivo a fase mais barroca de minha vida?

À morte da poesia

Morta está aquela que tão forte brilhou um dia.
Jaz enterrada, entre escombros esquecida, por um mundo virtual e sem sal trocada, por uma multidão tecnológica e alucinada.

Como foste assim morrer linda donzela!
Tu, rainha-mãe de qualquer literatura, da qual teus filhos poetas se faziam escultura, hoje
por ti choram e acendem vela.

Tu que transmitias, junto com tua irmã música, o sentimento mais nobre ao coração,
como um imã todos a ti atraías,
agora te enterram, sem te darem ao menos uma canção!

Teu canto era o mais lindo de se ouvir, hoje não mais se ouve.
Tu, que animavas o homem em seu ir e vir, de todas tuas virtudes
não há ninguém mais que te louve.

Ó poesia que eras o perfume da humanidade!
Morreste aos poucos, teus órgãos foram secando um a um,
e agora enterrada estás
sem deixares saudade no século XXI!

Ressurgimento

Às vezes se faz necessário
surtar para não enlouquecer.
Muitas das vezes é preciso tomar o caminho contrário, só pra sobreviver.

Pois quem é o dono da verdade,
senão o excelso criador?
Nessa vida a ninguém cabe saber nada, apenas da tristeza, a saudade e o amor.

Na alegria triste de um escravo,
prosseguimos enfim.
Aguardando a verdadeira liberdade,
deste mundo malvado, da dor e o pecado,
que de fato só acaba com a morte,
desventurada e boa sorte, simples assim!

Dia após dia, entre gritos e urros,
gemidos e murros,
se faz mais forte o nosso coração.
Na dureza da vida, já não se pode imperar o medo, apenas a impecável razão.

E assim vamos, esperando tudo e nada.
Que explodam novas bombas de Hiroshima,
ou se dê um flagra na própria mulher deitada com o melhor amigo pelada,
ou simplesmente se abaixem os impostos,
CPMF, e sejam presos todos esses anjos tortos,
que de terno e gravata fodem toda uma nação.

E assim vamos nós, com ais e dós,
matando animais e índios,
destruindo todos seus sonhos,
desmatando florestas, poluindo rios, pecando contra Deus!
Até que tudo termine, mas de novo começe...
com a fênix negra da maldade ressurgindo no coração dos filhos meus e seus!

Esboço

Essa dor que não me mata,
mas corrói, que tortura sem cessar,
voraz e constantemente, indescritível é,
descrevê-la até posso tentar,
mas de conseguir não ponho fé.

Luto eterno pela morte de ninguém,
auto-piedade, sarcasmo e desdém,
loucura sã, de quem nada melhor a fazer tem, senão reclamar do que não conseguiu,
e o que conseguiu também.

Dor que dilacera a alma,
sem fazer sentir-se, ou abalar a calma.
Horror do qual não se ouve grito,
melancolia, cujo maior terror, sem máximas,
é não ter para se verter poçosas lágrimas,
quisera eu poder dizer, eu minto, ou pior, omito!

Fisgada terrível, a sangrar o ensandecido ser.
Contudo, sem notar um pouco de bem fazer.
Esta é a dor que sinto, eis que a pinto,
sem menos nem mais
de meu íntimo, a fazer em meu pobre recinto.
Dores tais, a sofrer passaram muitos, pressinto,
e aqui findo,
crendo em ti Senhor,
sabes que teu amor me é bem-vindo!

Hoje

Hoje não quero, não espero
palavras boas ou bonitas.
Que eu não ouça conselhos
de pessoas ainda mais perdidas,
querendo ter em mim espelhos
que reflitam imagens mais feias
que as de suas próprias vidas!

Quero me embriagar no vinho,
respirar esse ópio
que a mim persegue,
em minha tristeza encontrar um caminho,
como um bandido foge da polícia que o segue.
Noite e dia, comer, para quem sabe,
vomitar toda essa melancolia
que de nada vale, nem pra chorar serve!

Que eu escute minhas músicas tristes,
em silêncio permaneça,
lamentando minhas muitas dores,
pra que tudo isso eu esqueça,
cague a minha alma seus temores, como o pássaro defeca alpistes!

Sim, que hoje nada mais me aborreça, me enfastie ou perturbe,
pois quero ficar assim,
no direito de chorar por mim,
por minhas dores e desamores,
somente hoje, quero e peço,
deixai-me quieto, pensativo e parado,
respeitai, não impeçais o meu fado!

Sucessão

É a sucessão dos dias, meu maior sofrimento.
O virar formal das semanas,
no calendário habitual,
tão repetitivo e normal,
meu triste maior tormento.

Por que sofrer com aquilo
que alegrar a qualquer um deveria?
Talvez, sem razões ou porquês,
das circunstâncias se vê a mercê,
da sorte uma vítima,
quem nunca assim se sentiu um dia, ou falar pode, que se não,
jamais ficará, sentir-se ou sentiria?

Esse estado, oscilante do mal ao desgraçado, consome as forças lentamente.
E o mesmo assim segue, débil prossegue,
com o corpo lasso e o espírito prostrado!

Adiante, vamos amigos!
O mundo não pára,
e parar irá jamais.
Do espeto cai-se à brasa,
o osso escapa ao cão
e dorme com os chacais.

Um dia é da caça, outro caçador,
às vezes se é mais caça,
mais presa que predador.
Sem problemas, a esperança verde
suporta todo esse terror.

Há pra cada crime fiança,
pros pecados, perdão.
Todo final têm seu começo,
as crianças, adultos serão.
Toda dor têm seu fim,
na estação certa floresce o jardim.

Por que então temer os dias,
se todo ano têm o seu fim?
Como não querer os dias,
se estes mesmos dias,
consomem a mim?