quinta-feira, 7 de abril de 2022

Rolê em BH


Nessas tardes frias
andando pela cidade, 
pelas ruas vazias
sinto de algo ou alguém saudade,
penso no começo, 
penso no fim,
penso no futuro,
penso em mim.

Vejo um belo grafite
ilustrando um muro.
Pessoas apressadas andando, 
quase se esbarrando.
Moradores vivem em barracas debaixo da ponte.
Pedintes no passeio 
(que não cheira bem, por falta de asseio)
são alguns dos elementos que
compõe este Belo Horizonte. 

Um garoto me aborda, me oferece balas.
Compro-as. Não tenho dinheiro suficiente, 
mas alegre por ter tido um cliente, ele deixa assim 
e rápido desaparece, some por fim. 

Vendedores todo o tempo me perguntam:
"Em quê posso ajudar?"
Eu nada respondo, 
só quero passar.
Eu simplesmente me escondo destes trabalhadores
que querem a vida ganhar. 

A arte da sobrevivência 
estão os artistas de rua 
no semáforo a praticar.
Fazem um apelo à consciência dos motoristas que se entretem ao vê-los
enquanto o sinal abrir
ficam a aguardar.

Nesta selva urbana 
há de tudo, 
na minha frente, 
quieto e mudo
está uma estátua humana.
Um ar sorridente, 
algumas moedas no chapéu. 

Pichações xingam o presidente, 
casais discretamente saem de um motel.
Uma cigana quer ler a minha mão 
e o meu destino saber, 
recuso, não creio nessa superstição e não é esta anciã que irá meus problemas resolver.

"Pão de queijo, só um real."
Leio o anúncio, é ótimo o preço, entro e como um, 
afinal, depois de tantas voltas eu mereço. 

Uma aglomeração passa 
pela praça da estação, 
não é à toa, 
servidores protestam 
contra uma privatização. 
Juntam-se às reivindicações do manifesto 
petições por aumento de salário. 
A polícia acompanha de perto o protesto. 

Depois de muitos anos
entro no sebo onde eu ia com o meu pai.
Mas não vejo livros, 
só torneiras, telhas e canos, o que será que aconteceu?
O homem que me atende diz: 
"Aqui não é mais sebo, eu tomo conta agora."
Ele explica tudo, sem demora.
Fico surpreso, o senhor de olhar triste 
que vendia livros 
faleceu há alguns meses,
de câncer aos 83 anos, morreu. 

Volto para casa, foi longa a tarde, cansado.
Felizmente, o ônibus não está cheio, 
posso vir sentado. 
A cidade anoitece! 
Lotam-se os bares,
de dentro duma igreja ouço uma prece, 
assim despontam os noturnos ares.
Da janela eu avisto a cidade, 
e vou divagando, sonhando, 
e não sei do quê 
- ou de quem - sentindo saudade. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário