Toda criança sonha em ser adulto um dia. E todo adulto, se pudesse, gostaria de voltar a ser criança. Parece contraditório, não? Mas é a mais pura verdade. Precisamos crescer para saber que estávamos melhor antes. E antes, achávamos que estaríamos melhor depois...
Criados debaixo das mais variadas regras, constantemente corrigidos pelos pais, professores, familiares, tendo que pedir autorização para sair de casa, tendo que dar explicação sobre onde vamos e a que hora voltaremos, além de precisar pedir dinheiro para comprar o que quer que seja, é normal que pensemos que quando formos "grandes" isso mudará. Crescemos com a idéia de que o adulto é um ser livre, independente e soberano, que não obedece a nada nem ninguém, faz o que lhe dá na telha e não têm que dar satisfação. Ledo engano! Ou, como dizem por aí: "Sabe de nada inocente!"
Ao chegarmos na maioridade temos a sensação de que agora somos de fato, senhores de si. Donos de nós mesmos, podemos fazer o que quisermos, quando bem entendermos, sem nos preocupar. Mas o tempo mostra que não é bem assim... Não demora para que tenhamos experiências que nos farão ver o quanto estamos errados. As coisas não são tão simples como pensávamos.
É então que levamos as primeiras portas na cara. Conseguir um emprego não é tão fácil como parece. Sem ele fica difícil pagar a faculdade (a não ser que ganhemos uma bolsa de estudos). Como muitos de nós não nascemos herdeiros, descobrimos o quanto o dinheiro é importante na vida, e como a falta dele pode limitar nossa qualidade de vida e até nossos sonhos.
Vem as primeiras decepções amorosas! Quem amamos não nos ama, ou a pessoa que amávamos nos trai, decepciona, nos joga pra escanteio. Somos deixados de lado pelos amigos, ou pessoas que pensávamos ser nossos amigos.
Bola pra frente, estamos trabalhando, mesmo que não seja o trabalho dos sonhos, dá pra viver. Estamos casados, com filhos pela casa, chorando e brincando, enquanto na caixinha de correio o carteiro não pára de entregar as contas do mês. A casa é própria mas têm que pagar as prestações do carro, ou o aluguel está caro e esse mês não vai dar pra gastar muito. Aquela viagem que faríamos nas férias fica pro ano que vem! Ou quem sabe depois?
Voto obrigatório, alistamento, impostos, contribuição pra aposentadoria - pois o cidadão merece descanso. Trabalho, ônibus, metrô lotado, rotina, patrão, demissão, filas, boletos, burocracia, novo emprego, casamento, divórcio, novo casamento, viuvez, velhice, dívidas, asilo, doenças, crise de meia idade, crise da terceira idade, crise!...
Não é preciso muito tempo pra perceber que nada disso é emocionante, e que principalmente, a vida de adulto não é tão boa quanto imaginávamos! Se antes queríamos "ser livres", hoje tudo o que gostaríamos é de estar novamente sob os cuidados de nossos pais, pois ser "dono do próprio nariz" dá muito mais trabalho...Onde está a liberdade de ir onde quiser, fazer o que quiser? Esbarra nas leis, nos custos econômicos, nas oportunidades e ocasiões.
Desde quando ser adulto significa saber exatamente o que se está fazendo e tomar as decisões certas? Eles também têm medo, incertezas, ficam apreensivos e nem sempre agem certo na hora certa. Tem que lidar com suas inseguranças, disfarçá-las, não podem ser vistos chorando pois tem de estar sempre fortes e resolutos, como os antigos monarcas deviam ser vistos pelo povo, a quem impunham respeito e admiração.
Há muita coisa sobre ser adulto que não sabíamos quando tínhamos 8, 9, 10 anos de idade. Víamos apenas a parte "boa", não a totalidade da questão. Se a vida de criança é em geral feita de diversão e poucas obrigações, a de um adulto é basicamente o oposto, muitas obrigações e pouca diversão...
Peter Pan tinha razão em não querer crescer. Ele sempre esteve certo. Talvez ele soubesse desde o começo sobre a frustação de ser adulto.