quinta-feira, 8 de abril de 2021

Não


Não tenho porquê sorrir, 
não tenho porquê chorar, 
não tenho pra onde fugir, 
não tenho motivos para viver, não tenho razões para morrer. 

Não há porquê continuar, 
não há porque se matar. 
Não há pedras demais no caminho, não são tão poucos assim os espinhos, não há porque se calar, 
não há assuntos a tratar. 

Não há sorte, 
não há azar. 
Não há luto, 
não há vida, 
não há morte, 
não há do que lamentar, 
não há do que se orgulhar.

Não há crime, 
não há justiça. 
Não há frango, quiabo, linguiça. 
Não há ódio, 
não há ganhador, 
não há pódio, 
não há amor. 

Não há fumaça, 
não há fogo. 
Não há janela, 
não há vidraça, 
não se tem príncipe, 
não há ogro. 

Não há beco, 
não há saída. 
O vinho não é fresco, 
velha também não é a bebida. 

Não há polícia, 
não há ladrão. 
Não há rodovia, 
não há carro, 
não há contramão. 

Não há sogra, 
não há cobra, 
não há nora, 
não há prima, 
não há passado, presente ou futuro, 
não há mais rima. 

Não há luz, 
não há escuro. 
Não há lucidez, 
por sua vez não há loucura. 
Não há muro, 
não há tijolos, não há textura. 

Não há nada em lugar algum! 
Sim, há de tudo em todos os lugares, de tudo meu camarada, em lugar nenhum! 
Há nessa vida de tudo um pouco, 
gigôlo, metrô, louco, 
mulher desquitada! 
Sim, há de tudo um pouco,
de declamar isto já estou rouco, não há um pouco de nada.

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